15 setembro 2009

WEBTVeducativaSC - Uma proposta para o ensino em Santa Catarina


Publicação do informativo Cultura na Rede em: setembro de 2008

A escola nas telinhas: do visor de celular à projeção em data show

- Crianças, atenção, por favor! Está no quadro a matéria. Escrevam rápido, pois preciso apagar para continuar o resto do texto.

E assim preciosos minutos de aula tornam-se pó de giz. Para quem aprendeu a ser professor com Paulo Freire, a quem a aprendizagem está intimamente ligada a realidade e com Leontiev que nos indica em sua Teoria da Atividade que, historicamente, fazemos e nos refazemos em atividade, em movimento. Estaremos longe destes dois educadores se nos distanciarmos absurdamente da realidade dura dos empobrecidos, da fome, do tráfico, do trabalho infantil, da exclusão.

Enquanto se ensina como escrever, tanto na gramática como na ortografia, longe da realidade, próximos do fracasso, próximos da miséria, longe da cultura,... As tecnologias estão por aí. Nos celulares, nos caixas de banco, nas máquinas digitais, nas câmeras de vídeo, nos computadores, nos softwares livres, nos sítios da internet.

Os jovens querendo novos desafios, aprender brincando e produzindo conhecimento sério. As rádios que já foram piratas, hoje são acessadas na internet, sem grilo, sem infrações, sem grandes equipamentos e custos. E muita, muita criatividade e autoria. Pode se ter uma rádio por cômodo em casa. E tudo bem! Com a mesma facilidade, podemos ter uma webtv e colocar no ar, uma programação própria, única, particular.

E porque não na escola? A aula de trabalho em grupo para produzir um jornal na TV de papelão, uma aula em que o grupo produz um jornal para ser transmitido em circuito interno ou on line ? A pesquisa escrita sobre o córrego poluído do bairro, pode ser o documentário com entrevistas, imagens e enquete. Além do teatro, pode ser a novela, o seriado ou o programa de perguntas e respostas entre turmas. Isso não é mais sonho. Isso é a realidade possível, com custo baixo e motivação alta.

Na Nicarágua no final dos anos 70 e início dos 80, lecionava-se em lombo de búfalo. Na escola Freiriana do interior dos sertões, ensinava-se e aprendia-se sob a sombra das mangueiras. Nas favelas, porões se transformavam em salas de aula. Nos bairros, garagens serviam de salas para alfabetização de adultos. A década de 80 foi pobre em recursos mas muito rica em iniciativas populares, tais como à escolaridade, a alfabetização, à cidadania, direito ao conhecimento produzido historicamente.

Salve o Vicentinho (operário,sindicalista, deputado e advogado) que completou os estudos no Telecurso 1º e 2º grau.. Fez-se sindicalista nas formações do sindicalismo e tornou-se advogado, graças ao Telecurso na TV aberta. Ele uniu os conhecimentos do sindicalismo, o Escolar usando a tecnologia da época. Daí observa-se o poder da imagem televisiva em promover o aprendizado.

A televisão inserida no contexto escolar é a conseqüência natural da aprendizagem. Analogamente, a escrita em papel, foi transferida para o mundo virtual dos editores de texto. Os displays são nosso modo de interagir alfabeticamente. A imagem e o texto escrito estão numa associação dinâmica de comunicação. A lousa deve dar lugar ao vídeo.

Nossos cérebros, ou seja, nós, estamos mais hábeis no decifrar códigos. É tudo muito bonito, prazeroso e objetivo. Mas isso não é alfabetizar.

Num processo de aprendizagem, ler é mais do que decifrar. Ler é interpretar, criar. É sair da condição de espectador, consumidor e coloca-o como ator, produtor, cidadão. O grau de escolaridade deve qualificar e elevar os níveis de desenvolvimento humano em diversas áreas da vida social.

A WEBTVeducativaSC possibilitará um avanço no processo de aprendizagem. Utilizar a linguagem da Televisão de forma pedagógica, significa fazer dos instrumentos do trabalho televisivo, instrumentos de aprendizagem do trabalho docente. A linguagem televisiva qualifica o processo de aprendizagem, porque,tendo como fonte principal a imagem em movimento, agrega a esta, elementos como o som, a luz, o roteiro, a edição, o trabalho em grupo, com a finalidade de potencializar uma mensagem. A imagem é um instrumento imediato de informação, criação e recriação, sendo que num contexto televisivo a imagem se potencializa e potencializa tudo que lhe é inerente, principalmente o conteúdo. Ao integrar os conceitos científicos disciplinares a estes conteúdos, se estabelece uma Atividade de Aprendizagem qualificada, dinâmica, lúdica e produtiva, potencializada pelo poder de persuasão da linguagem televisiva. Outro aspecto positivo da integração WEBTV e sala de aula, está na distribuição de tarefas: desde a elaboração da parte física como os operadores de câmeras, iluminadores, cenógrafos, etc, até a criação de uma programação ou da edição de um programa, estabelecem-se Atividades de Aprendizagem produtivas e eficazes na apropriação dos conceitos científicos disciplinares. A avaliação será mais eficaz, pois a TV concretiza o ato de ver-se com a gravação. Ver-se é imprescindível no processo de aprendizagem. É o causador da reflexão. Essa condição dada pela TV, caracteriza-se como um instrumento qualitativo para a avaliação da aprendizagem e do ensino.

Com isso, à função de ensinar rudimentos, somam-se as de organizar, gerir o conhecimento do educando com mais qualidade. Já algum tempo os estudantes chegam na escola com conhecimentos científicos qualificados. Os meios de comunicação (leia-se TV Aberta) colocaram dentro de casa muito do conhecimento científico, o que faz da escola um lugar para avançar o aprendizado e não para começar o aprendizado. Assim, o professor será mais especializado, porque o estudante já vem mais especializado. A escola será produtiva na Ciência, no Esporte, na Arte. Quanto mais “veloz” o instrumento, mais veloz o pensar.

Como será a escola com WEBTV?

Sabe-se que o professor é um trabalhador incansável, pesquisador das possibilidades ao seu alcance para um aprendizado de qualidade. Com quadro-negro e giz, educou-se muita gente e com esse parco recurso, transformou-se o mundo. O mimeógrafo, o retro projetor, o projetor de slides, os cartazes com cartolina e papel craft (pardo), o recorte/colagem de figuras, os pincéis atômicos, a máquina fotográfica analógica, os vídeos cassetes, os aparelhos de DVDs, todos esses recursos foram (e são) instrumentos a serviço da aprendizagem.

Atualmente, a cada seis meses, as tecnologias aprimoram-se, superam-se. Podemos ver, quantos blogs, fotologs, sítios, por aí a fora (virtualmente), nos trazem informações de professores e seus relatos on line ocupando o mundo virtual com seu poder de educar no mundo “real”. De novo, o professor por conta própria, investe nos recursos disponíveis, reinventa-se, para qualificar o aprendizado. Nós professores sabemos que é pelo conhecimento que se qualifica a existência humana.

Então, como seria a escola nas telinhas? Seria assim: - Crianças, atenção por favor! Vamos trabalhar em grupos. O grupo A, fica com a máquina fotográfica digital. O grupo B, com a filmadora. O grupo C, confere os sítios e repassa os textos para todos. O grupo D,... E assim por diante. Bem o conteúdo, cada grupo de professores organiza suas Atividades de Aprendizagem[1] e em parceria com seus alunos crie documentários, programas, entrevistas, blogs, fotologs, sítios, exposições de arte, teatro, vídeos, etc[2].

A WEDBTVeducativaSC formará nossos professores “Pasquales”, com programas dedicados a todas as disciplinas escolares, aos grupos de pesquisas disciplinares, aos alunos que sabem ensinar. Possibilitará ao educando do oeste do estado acessar o conteúdo de Artes das escolas do sul. Conversará com outros estudantes em cidades e países em tempo real e terão ciência de como eles se deparam com os conceitos das mais variadas disciplinas. Tudo isso numa programação em que todos estarão contribuindo interativamente 24horas. Programações locais, debates ao vivo, tudo em conformidade com os padrões de comunicação (cientificamente produzidos nas redes de telecomunicação) em que os conceitos científicos estarão em receitas culinárias, transmissões esportivas escolares, programas de radioweb, festivais de música, videoclipes. Uma verdadeira transformação no modo de ensinar e aprender. A Secretaria de Estado da Educação orientará o eixo norteador da concepção de aprendizagem histórico-cultural, que garantirá o caráter autoral das transmissões regionais e “filtrará” as iniciativas de cunho racista, homofóbico, segregador ou de cunho político partidário.

A formação continuada para professores será praticamente em tempo real com uma abrangência estadual, numa troca de experiências jamais vista na história. Tudo isso é claro se o Estado não fingir que investe em educação, se o professor não fingir que ensina e o educando não fingir que aprende.

Das paredes das cavernas, dos quadros-negros, dos retro-projetores, dos projetores de slides, dos datashows, chegou a hora da WEBTV, porque o futuro chegou e esta é agora a educação de qualidade nas escolas públicas.



[1] Sim grupos de alunos e grupos de professores. Porque é contraditório e contraproducente, pensar em avanço tecnológico onde o conhecimento seja tratado de forma isolada. E que ainda se acredite que arte, matemática, geografia e ....(qualquer outra (s) área(s) de conhecimento) possam ser abordadas isoladamente.

2 É bom observarmos que o mundo bidimensional dos cartazes, dos painéis, das maquetes insossas, das pesquisas copiar/colar, dos teatrinhos e jornais falados atrás de uma TV de caixa de papelão, etc., ainda vale! E não estão descartadas. Mas soma-se a estas toda uma gama de possibilidades em que medir, somar, escrever, desenhar, filosofar, pesquisar, poetizar, estão batendo na porta da sala de aula. E os professores precisam disto. Precisam do dinheiro público transformado em computadores, máquinas fotográficas digitais, câmeras de vídeo, softwares, DVDs, pen drives, se não, como diz Vygotsky – o conhecimento científico será trocado por qualquer doce que lhe proporciona prazer de forma mais imediata.

10 comentários:

Wanderléa disse...

Oi Luiz,
Que interessante! Fico feliz que nossa gerência tenha este trabalho maravilhoso ao qual você coordena!
Parabéns! Quantos conhecimentos!
Abraços,
Wanderléa

Ricardo Fernandes Braz disse...

Pois é Luiz. Esse trabalho é o que nossa equipe Luiz Napoleão, Ricardo, Irene,...Queremos e temos condições de fazer. Nosso projeto de Tecnologia para o Estado de Santa Catarina é muito bom, mas nossos gestores não permitem que façamos. Aliás, Luiz, esses gestores sabem o que é Serviço Público de qualidade? Porque não nos deixam trabalhar? Quanto trabalho de qualidade faríamos, com custo baixo e com os profissionais professores que temos no estado, todos dispostos a partilhar e contribuir para a educação em Santa Catarina. E nós conhecemos os caminhos. Um abraço e obrigado por reeditar esse texto. Ele mostra nossa capacidade e nossa lucidez sobre o que esse Estado pode ter, basta ouvirmos os funcionários públicos concursados e servidores do povo catarinense.

Unknown disse...

Pois então Wanderlea!
Sabemos perfeitamente onde nossas ações fortalecem e sustentam essa grande teia colaborativa. O Socializar conhecimento sempre foi nosso carro chefe!
Como diz o próprio autor do artigo Ricardo Braz,passsa ser um trabalho de quipe e queremos e temos condições de fazer.
Abraços e valeu pela visita!
Luiz

Unknown disse...

Dizer o que mais Ricardo?
Conhecer o caminho não significa disseminar ações que possam ser contempladas no contexto escolar. É preciso abrir estradas e permitir avanços para que no futuro possamos alcançar novas formas de ensinar e aprender. As tecnologias por si só não é nada, é preciso preparar profissionais no sentido de(Gerenciar),mediando, socializando, compartilhando o uso das tecnologias nas escolas Catarinense.
Abraços amigo Luiz

Elis Zampieri disse...

Luiz, Ricardo...

Uma verdadeira transformação no modo de ensinar e aprender. Há quanto esperamos por isso...

Fiquei impressionada ao ler esse texto. Não apenas por ser uma proposta inovadora, mas pela energia contida em cada palavra, pelo desejo e convicção de que é possível transformar a educação sim.

Queria poder divulgar esse projeto no meu espaço, se me permitirem.

Um grande e afetuoso abraço e, sigamos.

cybelemeyer.blogspot.com disse...

Olá Luiz e Ricardo,

Excelente projeto! É este o caminho e como tudo que é novo... dificuldades é que não faltam... Também, se fosse fácil não haveria tantos mártires por ai. O mais importante é divulgar, insistir e não desistir nunca.
Achei simplesmente maravilhoso!
Parabéns e vamos caminhando.
beijinhos

claudete disse...

Oi Luiz e Ricardo,As novas tecnologias são um ótimo meio de mudar a educação, torná-la mais prazerosa e mais atrativa.
Para isso precisamos de professores criativos que gostem e acredite na educação.Parabéns pela a idéia. abraços, Claudete

Ricardo Fernandes Braz disse...

Oi Elis. Fiquei muito feliz por seu comentário. Por quê? Por que ele é autoral, ele é um comentário solidário e incentivador. Esse projeto que chegamos inclusive a discutir com profissionais da Universidade Federal de Santa Catarina, não foi à frente. Por quê? Por que é barato, os professores da Rede Pública Estadual podem repensá-lo e executá-lo com baixo custo para o Estado. Então porque não fizeram? Por que não envolve nenhuma empresa dos que estão no poder agora e portanto, não enche o bolso de ninguém. O outro motivo é porque um projeto que professores podem executar envolve Formação Continuada e ninguém quer professor pensando ou reunido, pois uma atividade assim além de produzir tencnologia a favor da educação também produz consciência. Sendo assim, como em nosso Estado só há dinheiro para projetos que envolvam empresas ou campanhas políticas, espero que outras Secretarias se animem com esse artigo e façam a diferença. Um abraço.

Ricardo Fernandes Braz disse...

Oi Cybele. Mas vamos acabar com os mártires e fazer acontecer em vida. Um novo tipo de martírio é contratar gente que não é funcionário público, sem concurso e deixar os concursados de molho, só vendo os pseudos dirigentes fingindo que estão gerindo o bem público e só estão embolsando um salário extra dos cofres públicos, já que provavelmente eles não são bem sucedidos no mercado de trabalho que eles veneram, mas não tem competência para atuar nele, tampouco nos órgãos públicos. Um abraço.

Ricardo Fernandes Braz disse...

Oi Claudete. Professores criativos e trabalhadores temos de sobra. O que não temos são gestores a altura deles. Pois uma "empresa" como a Secretaria de Estado de Educação, que tem 90 % de profissionais graduados e com níveis de pós-graduação diversificados, não consegue organizar estes trabalhadores especializados para fazer um portal da educação gratuito ou para fazer uma webtv popular, então estes gestores são uns incompetentes. Eles não sabem gerir quem sabe trabalhar e pensar, eles sabem gerir somente os que eles dominam com gratificações que lhes devem favores. Gestores de um nível muito baixo. Nossos professores são profissionais competentíssimos, que dão a vida pela escola, que estudam sem auxílio público, que trabalham finais de semana para preparar aulas para uma melhor qualidade da educação e nossos gestores aqui em Santa Catarina se dedicam a arrumar o lay out de suas salas, contratar funcionários não concursados para gerir o bem público e se ajeitar para eleição. Já temos bastante professores comprometidos e criativos, só não temos gestores com este nível. Um abraço.