Mestres em Educação – UFSC; Tutoras do curso Educação Integral e Integrada;
Educação é acima de tudo cultura. Cultura representando vida, resgate e construção da história. Na escola devemos propiciar diferentes formas da criança poder expressar sua aprendizagem. Não aquela pseudo-aprendizagem típica do ensino tradicional, mas sim aquela em que se percebe a criança mergulhada no objeto do conhecimento. Uma das formas como os educadores podem contribuir para que isto aconteça é fornecendo-lhes diferentes possibilidades de manifestar este aprendizado, especialmente utilizando recursos tecnológicos como aliados. O projeto Malungo representou e representa esta imersão cognitiva, física e emocional com o aprendizado. Malungo é um termo ioruba e significa companheiro de viagem.
O projeto Malungo surgiu de uma necessidade demonstrada pelas crianças da EEB Jurema Cavallazzi, de se reconhecer e conhecer sua origem, uma vez que boa parte dos registros da história de Florianópolis contempla(va) somente a perspectiva açoriana, fazendo com que parte de nossas raízes acabem sendo segregadas. Os novos tempos nos pedem para lidarmos com as diferenças no nível da compreensão, não da tolerância; no nível do pluralismo cultural, não no mito da democracia racial. E foi isto que o grupo de educadores(as), estudantes e comunidade conquistaram. Contemplando a lei 10639/03, problematizaram a construção curricular que se dizia neutra, colocando em xeque o que estava oculto: uma perspectiva de formação social eurocêntrica, machista, excludente, branqueadora. Para que isto seja compreendido, refletido e discutido no currículo é importante que se dê “voz” ao educando.
As tecnologias podem facilitar este processo. No projeto Malungo, desenvolvido dentro de uma escola públlica, de fato, as crianças transitaram de um fazer pedagógico (que a princípio pode nos parecer contraditório, mas que caracteriza nosso momento histórico), que envolve a elaboração artesanal à elaboração tecnológica. Tiveram a oportunidade de estudar e resgatar a importância e o significado das máscaras de origem africana, compreendendo esta importante manifestação artística, contextualizada e problematizada. Confecções de bonecas de pano e o envolvimento com a literatura infantil onde o negro é tratado sem preconceitos, ao contrário do que muitos livros didáticos disponibilizados nas escolas retratam, fizeram parte desta composição.
As imagens fotográficas tiradas por eles deram-lhes a oportunidade de protagonizar e decidir através da captura de imagens, o olhar que tinham sobre o que estava sendo trabalhado. Ao utilizarem as tecnologias a favor do aprendizado, novos horizontes se descortinam: a apropriação dos processos produtivos em audiovisual pode alcançar/gerar autonomia progressiva. Na escola, dificilmente é dado às crianças o direito de revelarem sua própria ótica sobre o que está sendo desenvolvido. Na fotografia e na filmagem, a questão da autoria e do poder que emanam delas, se revelam. Afinal, sou “eu” quem decide o que vai ser mostrado e como o será. Nas escolhas que fazemos, está representado o que acredito ver ou o que quero que todos olhem. De certa forma, o domínio da situação nos dá poder. Com a sensação de poder, há a convicção de que somos importantes. A auto-estima e auto-imagem são alimentadas. A imagem selecionada por mim é tão importante quanto minha autoria sobre um texto. Concebe o que vejo quando sou o protagonista e como me enxergam quando sirvo de elemento para a imagem. Registro no tempo e no espaço algo vivido e construído pelo grupo.
Através do registro de imagens passamos a olhar o espaço que ocupamos rotineiramente, de outra forma ( Levy, 1993 in Bitt-Monteiro):
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[2] Imagens produzidas por Sérgio Luz e Souza, durante oficina de máscaras africanas, ofertada pela artista-ceramista Marliése Vicenzi. Florianópolis, 2006.
[3] Exercício autônomo: ao ser oferecida uma câmara fotográfica às crianças, não se direcionou o trabalho, mas elas próprias organizaram um miniestúdio, dentro da escola, e alternaram as funções de fotografar e serem fotografas.
[3] Exercício autônomo: ao ser oferecida uma câmara fotográfica às crianças, não se direcionou o trabalho, mas elas próprias organizaram um miniestúdio, dentro da escola, e alternaram as funções de fotografar e serem fotografas.
“A imagem traz a possibilidade de desnaturalizar o cotidiano através da qualidade de reflexionar as formas materiais, inclinando o espectador para a criação de sentidos ou para a reavaliação de sentidos corriqueiros. Além disto, a imagem também pode ser concebida como uma tecnologia que incrementa a memória, lhe conferindo novos ritmos e devires.”
A elaboração do jornal foi outra importante construção das crianças.
O jornal, as fotos, as reportagens divulgadas nos meios de comunicação também permitiram que a escola fosse reconhecida em outros lugares, divulgando o que estão fazendo e aprendendo, enfim, a forma como se relacionam com o conhecimento. A construção do vínculo com a aprendizagem, antes um desafio constante, se mostrou mais possível, mais geradora de significados. Sair do espaço da escola e vê-la de fora para dentro foi e é um importante exercício. Perceber nas imagens produzidas pelas crianças, através de fotografias, momentos distintos de fazeres pedagógicos, registrados autonomamente, possibilitou a construção da Brincação Fotográfica, exposição que ganhou espaços e percorreu a cidade, mostrando que o uso das tecnologias, a criatividade, e a reflexão sobre os modos de produção
De tudo, desta experiência pedagógica denominada Projeto Malungo, ficou o aprendizado fortalecido pelas relações estabelecidas de colocar em prática os princípios que movem as culturas africanas: a unidade, a autodeterminação, o trabalho coletivo e responsabilidade, a cooperação econômica, o motivo, a criatividade e a fé.
Referências Bibliográficas:
BITT-MONTEIRO, Mário. Teoria dos Universos Circundantes – percepção, espaço e fotografia: uma abordagem metodológica. Acesso: 25/09/2009. Disponível em:
O jornal, as fotos, as reportagens divulgadas nos meios de comunicação também permitiram que a escola fosse reconhecida em outros lugares, divulgando o que estão fazendo e aprendendo, enfim, a forma como se relacionam com o conhecimento. A construção do vínculo com a aprendizagem, antes um desafio constante, se mostrou mais possível, mais geradora de significados. Sair do espaço da escola e vê-la de fora para dentro foi e é um importante exercício. Perceber nas imagens produzidas pelas crianças, através de fotografias, momentos distintos de fazeres pedagógicos, registrados autonomamente, possibilitou a construção da Brincação Fotográfica, exposição que ganhou espaços e percorreu a cidade, mostrando que o uso das tecnologias, a criatividade, e a reflexão sobre os modos de produção
De tudo, desta experiência pedagógica denominada Projeto Malungo, ficou o aprendizado fortalecido pelas relações estabelecidas de colocar em prática os princípios que movem as culturas africanas: a unidade, a autodeterminação, o trabalho coletivo e responsabilidade, a cooperação econômica, o motivo, a criatividade e a fé.
Referências Bibliográficas:
BITT-MONTEIRO, Mário. Teoria dos Universos Circundantes – percepção, espaço e fotografia: uma abordagem metodológica. Acesso: 25/09/2009. Disponível em:
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[4] O autor da imagem é Guilherme Malaquias: dez anos, criança-sapeca, criança-profeta que brinca fotografando os próprios pés, a anunciar um convite: companheiro de viagem!
[5] Etapas importantes de apropriação: luz, sombra, testar, brincar. O autor é Luiz Fernando Coelho, 14 anos, que teve muita dificuldade em reconhecer sua autoria para a imagem selecionada.
[5] Etapas importantes de apropriação: luz, sombra, testar, brincar. O autor é Luiz Fernando Coelho, 14 anos, que teve muita dificuldade em reconhecer sua autoria para a imagem selecionada.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
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