Por Elis Zampieri
Pensar em inclusão passa por pensar em uma série de atravessamentos e compreensões que vamos construindo nas relações sociais que estabelecemos. Avaliar como pensam os professores e
percebem a diferença em sala de aula parece ser análise relevante para o melhor entendimento de questões como aprendizagem e desenvolvimento de sujeitos que necessitam da interação sem que lhe sejam negadas suas especificidades.
Perceber que existem diferentes maneiras de olhar a diferença pode expli carporque para um mesmo sujeito podem-se entrever possibilidades ou dificuldades.
A sociedade, e a escola como produção desta, definiram ao longo do tempo padrões, normalizações, lugares e posições que embora pareçam produções naturais são criações sociais que definem e subjetivam o outro. Temos aí, os que aprendem e os que não aprendem os que possuem condições de e os que não acompanham os inteligentes e os fracassados, os que avançam e os repetentes, os destaques e as escórias.
Uma escola competente é a que forma indivíduos competentes. Competência lida aqui como a capacidade de se sobressair, de competir, de formação do indivíduo cientificamente preparado dotado de habilidades cognitivas que permitam o acesso aos bens produzidos e de capacidade de construir inteligentemente meios de sobrevivência.
Desvaloriza-se e menospreza-se na maioria das vezes habilidades outras que não estas. A cognição como capacidade que encontra-se no topo da pirâmide educacional, estando todas as demais habilidades numa escala inferior.
O sentido que se dá, assim para competência é também uma invenção social, enredada em fortes relações de poder definida por um eu superior, “normal”, impositivo. Quando o professor se refere ao aluno dizendo “ele não aprende”, está querendo dizer: ele não aprende o que lhe estou ensinando, da forma como eu estou lhe ensinando e no tempo que estou determinando, o que não é por si só condição para o fracasso.
Esvaziar-se dessa construção negativa dos sujeitos em situação de aprendizagem, é entender que o discurso da não aprendência é um discurso inócuo, vazio, acientífico e que revertê-lo pressupõe desnaturalizar verdades, rever conceitos e buscar alternativas de (im)permanência dos modos de
ser e estar em sala de aula, “é pensar que os diferentes aprendem de uma forma peculiar e que mais do que diagnósticos precisamos problematizar e negociar outras representações para estes sujeitos.
Representações que nos permitam pensar e ver como legítimas outras formas de ensinar e aprender indicadas pelos próprios sujeitos, forjadas nas relações com esses grupos culturais” [Fabris e Lopes, 2000].
Nesse sentido a diferença precisa ser lida não como oposto de igualdade. O que é diferente, não é pois aquilo que não é igual, mas aquilo que não busca a homogeinização no mesmo, mas quer manter e ver reconhecidas suas especificidades. Não é algo a ser eliminado, completado, ou corrigido. Não sao, os diferentes, sujeitos que devam apenas serem respeitados ou tolerados, uma vez que são estes, princípios fundamentais à todo ser humano.
O próprio termo inclusão remete a algo que estaria fora. Não se nega aqui, a existência desse fato, o que se propõe é a problematização de questões para as quais não existem embates. O problema da diferença não está posto no seu âmago, uma vez que sendo todos diferentes, é um signo da humanidade, mas reside na construção social e na compreensão desta enquanto falta, imcompletude, algo a ser tolerado. O diferente traz em si, aquilo que eu igual não desejo, e que como tal precisa ser corrigido, modificado, normalizado para que este possa, como eu, estar dentro, fazer parte.
Para normalizar é preciso, portanto, reforçar no aluno aquilo que lhe falta, trabalhar conceitos e habilidades que este ainda não alcança recuperar. Ou quando isto não acontece repetir, até que este consiga um mínimo necessário ou quando, percebendo-se que não atingirá o esperado, empurrá-lo para a série seguinte. Assim perpetua-se na escola espaços de não aprendizagem para os diferentes e reforça-se o estigma de fracassado que passa a fazer parte da identidade desses alunos.
Não se trata aqui de negar os deficits cognitivos. Eles existem. Não se trata também de induzir ao abandono intelectual aqueles que, por algum motivo não apresentam condições de aprendizagem da forma como acontece com a maioria dos alunos que recebemos em nossas escolas. Trata-se sim, da não generalização do termo deficiência. Ninguém é deficiente em tudo e todas as deficiências são singulares. É necessário, pois abrir espaços e apresentar possibilidades de avanço, buscando formas alternativas que não estejam vinculadas a um padrão. Trabalhar os sujeitos como seres únicos e aprendentes em potencial, desde que sejam reduzidas as ações de enquadramento e dadas as condições devidas para a aprendizagem, ultrapassando como nos diz Paulo Freire, a consciência ingênua que faz do nosso fazer pedagógico um ato descompromissado, sem reflexão, sem crítica, atrelado à permanência e à tradição.
Bibliografia:
LOPES, Maura Corcini; DAL’IGNA, Maria Claudia (org.) In/Exclusão: Nas Tramas da Escola. Editora ULBRA, Canoas, 2007
Texto publicado originalmente no
blog SobreEducação
Sobre o autor:
Elis Zampieri é pedagoga, com especialização em Educação Infantil e Séries Iniciais e em Educação Especial. É autora do blog “Sobre Educação”e moderadora do grupo “Educação em Rede”
12 comentários:
Passou pelo blog do NTE de campos Novos para ver a novidade, estamos em festa e queremos dividir nossa alegria com você.
Vamos lá agora!
Abraços
Luiz
Na página dos Blogs dos NTEs o Link para o NTE de Campos Novos não está correto
Agradeço pela informação!
Já está solucionado!
Abraços
Luiz
Fico muito à vontade de ler este post, aliás, muito feliz porque é muito bom encontrar profissionais preocupados com as aprendizagens e as não-aprendizagens. O não-aprender exige-nos capacidade de autocrítica, afinal como diz se "ele não aprende o que lhe estou ensinando, da forma como eu estou lhe ensinando e no tempo que estou determinando" preciso eu reunir saberes advindo das possibilidades de saber ouvir, Ver, sentir - e mediar - para encontrar as pistas de nossas aprendências mútuas.
Muito bom desafio!
Rocio!
Gostei muito de sua contribuição no "Cultura na rede".
Espero que continue por mais vezes expondo suas experiências
Abraços
Luiz
Luiz, grata pela divulgação do meu texto, pela força e o apoio de sempre.
Um grande abraço, Elis
Elis!
Será sempre satisfação em poder compartilhar neste ambiente maravilhas de texto como este. Percebe-se que o canal de socialização em rede é uma forma de oportunizar elementos que propicie novas formas de aprender.
Abraços
Luiz
Luiz,
Parabéns pelo blog, adorei.
Agradeço a visita no nosso.
É sempre uma grande alegria interagir com a luz e a magia das pessoas de Santa Catarina. Meu marido morou vários anos em Florianópolis e foi na Lagoa do Peri, fazendo uma trilha até a casa do lendário Sr. Miro que nos conhecemos. Sou apaixonada pela cultura da ilha, dos casarões do Ribeirão da Ilha, da lua cheia na Costa da lagoa até as trilhas mais distantes como Lagoinha do Leste, Saquinho, Naufragados e tantos outros. Fale seu lugar favorito da ilha e nosso blog vai te mandar um singelo presente. Volte sempre e fique a vontade de usar links! Seja sempre bem vindo em nossa terra também! Em tempo, preciso contar minha cozinha é habitada de rendas de bilro de uma senhora linda que encontrei em uma caminhada no Rio Vermelho. Meu marido morava na Barra da Lagoa. Roberta
Olá Roberta!
Sempre tenho em mente que as situações de vida não acontecem por acaso. Falar do meu lugar favorito aqui na ilha encantadora é algo especial, principalmente para quem é nativo e também apaixonado por essa terrinha. Nem o poeta Zininho conseguiu em seus poemas descrever tanta beleza,... ”jamais algum poeta teve tanto pra cantar”... É a natureza que nos proporciona momentos de magia e luz, são essas energias que nos faz acreditar que o melhor lugar do mundo é aqui e agora!
Segue a letra do Rancho de Amor à Ilha hino oficial da cidade de Florianópolis SC
Composição: Cláudio Alvim Barbosa ( Zininho )
Um pedacinho de terra,
perdido no mar!...
Num pedacinho de terra,
beleza sem par...
Jamais a natureza
reuniu tanta beleza
jamais algum poeta
teve tanto pra cantar!
Num pedacinho de terra
belezas sem par!
Ilha da moça faceira,
da velha rendeira tradicional
Ilha da velha figueira
onde em tarde fagueira
vou ler meu jornal.
Tua lagoa formosa
ternura de rosa
poema ao luar,
cristal onde a lua vaidosa
sestrosa, dengosa
vem se espelhar..."
Abraços
Luiz
Oi Elis...não é que te encontrei por aqui também?!
Um grande abraço.prousti
Pois é Elis...o que ensinar e como ensinar no contexto da educação inclusiva tem sido um dos grandes pontos a serem "objetivamente esclarecidos"!!
Não há (ou pelo menos não deveria haver!)chance de continuarmos com os princípios da Educação para Todos (por todos os lados, na legislação, nos livros, nas rodas de conversas, debates, etc.) e utilizando as ferramentas (de ensino, de currículo, de avaliação, dentre outras)da Escola Tradicional no cotidiano de nossas escolas.
Há uma confusão tremenda que necessita ser equilibrada. Você não acha?!
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